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A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NOS CURSOS DE PEDAGOGIA: a Experiência do "I Encontro de Práticas Pedagógicas Colaborativas"

Maria Marta do Couto Pereira
Centro Universitário de Patos de Minas - Unipam

Nilda Íris Vaz Borges
Centro Universitário de Patos de Minas - Unipam

Perciliana Pena
Centro Universitário de Patos de Minas [ percilianapena@uol.com.br]

Tânia Mara Corrêa
Universidade Presidente Antônio Carlos - Unipac - Campus de Araguari   

Zeila Miranda Ferreira
Universidade Federal de Uberlândia - [zeilamf@uol.com.br]


Os cursos de formação de professores têm solicitado  das suas instituições novas e diferentes concepções de educação. A função social da universidade se amplia à medida que os problemas emergem. Nesse contexto, visando contribuir de uma forma salutar com a capacitação dos nossos alunos que atuarão nos anos iniciais do Ensino Fundamental das escolas públicas estaduais, municipais e particulares, foram planejadas oficinas, a serem desenvolvidas através de projetos de trabalho dentro de uma perspectiva interdisciplinar. Para tanto, estabelecemos intercâmbio, a partir de práticas pedagógicas colaborativas entre as instituições de ensino superior UNIPAM e UNIPAC, proporcionando assim a operacionalização e realização de experiências bem sucedidas, desenvolvidas nos cursos de formação de professores. 


Introdução 
"Não existem práticas pedagógicas que não girem em torno de sonhos e utopias."        Paulo Freire 

A formação de professores, há quase vinte anos, tem sido foco de discussões e debates em todos os cantos do país, juntamente com as temáticas referentes ao processo ensino-aprendizagem, a estrutura do conhecimento pedagógico, os saberes da docência, o curso de Pedagogia, a construção da identidade profissional do professor e do pedagogo. 


Entretanto, os velhos problemas, como por exemplo, os relativos à metodologia, conteúdos, ensino, recursos didáticos, aprendizagem, relacionamento professor-aluno, avaliação, divisão de trabalho na escola, desempenho das funções dos especialistas em educação, entre outros, e as questões suscitadas por esses temas, não se resolveram e parecem de difícil solução. Aliás, percebe-se que estão mais complicadas, aliadas às inúmeras dificuldades vivenciadas atualmente pelo pedagogo e pelo professor: deficiências na formação, baixos salários, desvalorização do profissional, parcas condições de trabalho, descompromisso com a profissão, falta de segurança e credibilidade no profissional da educação, etc.


Por outro lado, faz-se urgente e cada vez mais necessária a presença do profissional pedagogo e do professor nas instituições escolares, uma vez que espera-se desses o domínio das teorias pedagógicas capazes de integrar num conjunto articulado, os diferentes processos de análise dos diversos objetos de estudo das ciências da educação. No entanto, em vista dos desafios enfrentados na complexidade da sala de aula e diante da atual Política Educacional Brasileira, não serve para a instituição escolar qualquer docente ou pedagogo, especialmente quando se trata da função mediadora do professor, no que se refere a construção básica, estruturação e organização de saberes, comportamentos e atitudes, como nos anos iniciais do Ensino Fundamental.


Alarcão (1996) analisa o fato de ser imprescindível na escola contemporânea, a presença de um profissional professor, que seja eficiente, que consiga aproximar a teoria e a prática, que tenha uma formação por competências, que forme seus alunos para serem reflexivos e pesquisadores, que produza conhecimentos na ação e sobre a ação de ensinar, que contrarie os princípios da racionalidade técnica, que seja criativo e investigador, que tenha habilidades para resolver problemas, que seja capaz de relacionar-se e interagir com alunos, pais e colegas de trabalho, entre outras inúmeras habilidades e capacidades requeridas. 


Então, por um lado, cabe ao curso de Pedagogia, a formação do pedagogo, um profissional qualificado para exercer atividades e lidar com fatos, contextos, situações e estruturas em diversos campos educativos, atendendo às necessidades sociais, não só na gestão, docência, supervisão, inspeção, orientação e coordenação pedagógica, mas também nas empresas, políticas educacionais, tecnologia, pesquisa, movimentos sociais, lazer, rádio, televisão, etc. 


Por outro lado, a Pedagogia, enquanto curso de licenciatura, graduação de professores para a Educação Infantil e Ensino Fundamental, é o campo do conhecimento que de acordo com a concepção de Libâneo (1998, p.22), se ocupa do "estudo sistemático da educação, isto é, do ato educativo, da prática educativa concreta que se realiza na sociedade como um dos ingredientes básicos da configuração da atividade humana".  Isso significa que através de conhecimentos técnicos, filosóficos, científicos, sociológicos, psicológicos, didáticos e outros, a Pedagogia investiga o contexto educacional em transformação, visando tornar claros os objetivos e intervir nos processos metodológicos, didáticos, ensino-aprendizagem, atitudes e práticas educativas e as formas de ação pedagógica em função da construção humana.


Nesse caso, o esperado é que o aluno-futuro-professor, assimile o caráter pedagógico da prática educativa, os elementos que constituem a relação pedagógica - os conteúdos, o relacionamento, o ensino, o aluno, os procedimentos, os métodos, a aprendizagem, a sociedade, a avaliação, os recursos didático-pedagógicos. Pimenta (1999), ressalta que esses elementos devem ser articulados pela ação educativa dinâmica e intencional do educador, contribuindo para pesquisar os fatores que irão colaborar com a formação humana em cada realidade histórica e social na qual ele atua. Portanto, deve adquirir técnicas, conhecimentos próprios e específicos para utilizar na sua prática educativa docente, estudando, conhecendo e sabendo expressar os diferentes elementos da relação pedagógica e das manifestações da educação como prática social. 


Entende-se que se a formação inicial, tal como se constata, não contribui para que a prática pedagógica do futuro professor seja eficaz. Então é preciso não só repensá-la, como também propor novas condições para uma formação inicial e continuada mais eficientes, a partir das realidades existentes. Essa formação não deve visar apenas o acúmulo de conhecimentos do futuro professor, mas, conforme explica Nóvoa (1995), é essencial a construção e mudança de suas atitudes “(...) por novos hábitos de rigor e de cientificidade, que lhe proporcionem um distanciamento na análise dos fenômenos que o envolvem e sobre os quais terá de actuar." 


Nesse aspecto, em função de exigências das novas demandas das diversas instituições educacionais, e para atender a necessidade de transformações nos processos educativos, professores de alguns cursos de Pedagogia, estão tentando modificar suas práticas pedagógicas e atitudes, propondo novas e diferentes experiências de educação e de ensino, como por exemplo, as atividades que foram implementadas no "I Encontro de Práticas Pedagógicas Colaborativas", a partir da compreensão de que a função social da universidade deve ser ampliada à medida que os problemas emergem. É sobre essas práticas colaborativas que discutiremos no próximo item.      

O que são as Práticas Pedagógicas Colaborativas?


A excessiva individualidade, característica do profissional da educação que tem dificuldades em socializar os materiais e textos que produz, é um dos problemas que os educadores precisam combater. Para se efetivar esse esforço coletivo, é necessário que o professor/pedagogo se esforce para superar o individualismo pedagógico, evitando buscar soluções isoladamente, para enfrentar e solucionar as dificuldades que encontra em sua prática docente. Wachowicz, (1996, p. 134), afirma que "o individualismo que caracteriza tão exacerbadamente a cultura ocidental, ... e consequentemente o trabalho do professor, é uma grande limitação para as respostas que têm sido dadas à necessidade mais característica do nosso tempo: a socialização das consciências".


Nesse sentido, Collis (1998) apud Barros (1994), falando sobre aprendizagem colaborativa, diz que "ninguém é uma ilha e não há um projeto tão simples que uma só pessoa possa realizar sozinha". Lembra também que aprender com os outros, reformulando o conhecimento a partir da crítica do outro, é importante para o fortalecimento das habilidades de comunicação e raciocínio. Assim, trocar materiais didático-pedagógicos e experiências entre os educadores, pode transformar a ação do professor numa prática mais reflexiva, rica, cheia de possibilidades e de aprendizagem.


Quando alunos e/ou professores trabalham juntos com o mesmo objetivo de aprendizagem e produzem um produto final ou chegam a uma solução comum, estão a aprender cooperativamente. E quando trabalham cooperativamente, "percebem" que podem atingir os seus objetivos somente se os outros membros do grupo também atingirem os seus, ou seja, existem objetivos de grupo. Na aprendizagem, há sempre uma interação com o objeto, com o meio ambiente, e essa deve ser identificada com construção social; a importância do trabalho cooperativo na aprendizagem, foi destacada na teoria de Vygotsky (1986). Ele diz que a forma de funcionamento interpsicológico tem um forte impacto no resultado do funcionamento intrapsicológico. A transformação dos processos externos em processos internos - internalização, não é vista por este autor, como mera transferência, mas sim como o resultado de uma longa série de acontecimentos de desenvolvimento; consequentemente, a realidade social tem um papel muito importante na determinação da natureza do funcionamento intrapsicológico (Baquero, 1998).


Existe diferença entre trabalho colaborativo e trabalho cooperativo. No trabalho colaborativo, segundo Ferreira (2003) as pessoas assumem diferentes papéis ao resolverem uma tarefa proposta, e cada um fica responsável por uma parte da mesma. Com essa divisão de trabalho, os indivíduos trabalham a maior parte do tempo, sozinhos e isolados. Pode surgir a competição como uma variável com peso e com efeitos psicossociais não muito saudáveis. 


No trabalho cooperativo, Santoro & Borges (1998) explicam que as pessoas trabalham sempre em conjunto, num mesmo problema, em vez de separadamente, dividindo tarefas. Desse modo, cria-se um ambiente rico em descobertas mútuas, retornos recíprocos e há um processo permanente de compartilhar as idéias, pouco espaço para a competição e muito para a interação entre os alunos. Além disso, a resolução de problemas é ideal para a discussão em grupo, pois as suas soluções podem ser demonstradas, os alunos podem mostrar aos outros a lógica dos seus argumentos, pode aparecer diferentes formas de resolver o mesmo problema, uns podem ajudar aos outros a perceber e compreender conceitos básicos e todos aprendem falando, ouvindo, expondo, pensando com o outros.


Desse modo, percebe-se que na aprendizagem colaborativa, a aquisição de conhecimentos, habilidades ou atitudes não é um processo inerentemente individual, mas resulta da interação do grupo. Esse tipo de aprendizagem, baseia-se de acordo com Barros (1994), nas seguintes premissas: a) cada participante tem conhecimentos e experiências individuais para oferecer e compartilhar com os outros membros do grupo; b) quando trabalham juntos como um time, um participante ajuda o outro a aprender; c) para construir uma equipe, cada membro do grupo deve desempenhar um papel para realizar a missão do grupo; d) o intercâmbio de papéis desempenhados no grupo adiciona valor ao trabalho da equipe porque um participante pode assumir um papel com o qual esteja familiarizado numa dada situação. A aprendizagem colaborativa, pode portanto, ser entendida e deve ser adotada pelos professores, como metodologia do trabalho pedagógico, como uma estratégia educativa em que dois ou mais sujeitos constróem o seu conhecimento através da discussão, da reflexão e tomada de decisões. 


Com essa intenção de contribuir com a aprendizagem colaborativa dos alunos, futuros-professores ou pedagogos que atuarão nos anos iniciais do Ensino Fundamental das escolas públicas estaduais, municipais e particulares, foram planejadas oficinas, a serem desenvolvidas através de projetos de trabalho dentro de uma perspectiva interdisciplinar. 


Para tanto, estabeleceu-se intercâmbio, entre duas instituições mineiras de ensino superior, o Centro Universitário de Patos de Minas - Unipam, localizado em Patos de Minas, MG e a Universidade Presidente Antônio Carlos, situada em Araguari, MG, proporcionando assim, a operacionalização e realização de atividades bem sucedidas, desenvolvidas nos cursos de Pedagogia dessas instituições de ensino superior, tais como as do "I Encontro de Práticas Pedagógicas Colaborativas".

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